De manhã, costuma estar uma miúda nova à espera do autocarro. Deve andar na universidade, ali no Campo Grande, pois é nessa paragem que sai. A «pita», toda enjoada, chega depois dos outros mas é a primeira a enfiar-se no autocarro. Passa na frente de todos.
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Da primeira vez que reparei nela, foi o seu mau comportamento que chamou a atenção. A «pita», não tendo entrado no autocarro antes de mim, murmurou alguma coisa nas minhas costas. Continuei e acabei por me sentar num daqueles bancos do fundo, em que se viaja de costas. A «pita», veio sentar-se ao meu lado e como eu estava na cochia, ela ficou na janela. Também aí, o meu gesto de desviar as pernas para lhe dar passagem, recebeu um imperceptível murmúrio.
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A «pita», é daquelas que põe fones nos ouvidos e a música alta. Tive de ir a viagem toda com ruídos mesmo ao meu lado. Ao chegar à paragem de saída, decidi levantar-me para que ela passasse sem ter de voltar a roçar pelas pernas dos outros ou desiquilibrar-se com um movimento rápido do autocarro. Pois por me levantar à frente dela, a «pita» voltou a murmurar algo. Aquilo já parecia um rosno, e a enjoadinha da miúda já estava a irritar-me os nervos.
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Ambas vamos a sair e as portas, ao abrirem, fazem-no com alguma lentidão. Aguardo que a do meu lado abra totalmente e começo a descer. Mas a enjoadinha da miúda, apressada, já se metia a passar pela abertura ao meio, colocando-se assim na minha frente no momento em que já estava a descer o degrau. Ela roçou na minha mala e voltou a rosnar algo. Desta vez, mais alto.
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Seguiu para a direita, eu para a esquerda. Mas nesse instante ela conseguiu azedar a minha manhã. Se tivesse seguido na mesma direcção, não sei não... até imaginei se aquela cena acontecesse novamente, era bem capaz dos seus rosnos me levarem a agir por impulso e atirar-me a ela contra uma parede, para lhe dizer que precisa de ter modos.
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Mas a coisa passou... a enjoadinha- assim ganhou o seu merecido apelido, continuou a aparecer na paragem, mas desta vez mais composta, bem vestida, cabelo solto e tal... porém, reconheci-lhe logo a postura. E longe dela fiz por ficar.
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Hoje, quis o destino que assistisse a uma cena que me deixou contente. A enjoadinha, mais uma vez, chega, passa na frente, e avança para dentro do autocarro. Mas uma mulher que ali aguardava à muito mais tempo, não deixou a situação passar em branco. Disse-lhe logo que tem de aprender a respeitar as pessoas e não passar na frente. Para meu rejubilo, acrescentou que «todos os dias era a mesma coisa». Ora, ainda bem que não fui só eu a reparar no comportamento anti-social desta pita enjoada! Quer isto dizer, que não me equivoquei quando achei a enjoadinha, enjoadinha.
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A pita, voltou a rosnar algo. Imperceptível e novamente, já as costas da senhora iam longe. Enjoadinha do caraças...
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Olha pita, não te metas comigo, pois pode ser que um dia eu decida também te dar uma liçãozinha de civismo.