quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A multa - cont.


Caríssimos,
uma das entradas mais comentadas deste blogue foi sobre a MULTA passada a quem viaja nos autocarros da CARRIS com título inválido. Pois aqui vai o resto da história:

No dia em que me passaram a multa  tive de apanhar um outro autocarro para continuar viagem. Os fiscais  acompanharam-me porque não tinha bilhete e quando a viatura chega e as portas abrem-se, o motorista cumprimenta com ENTUSIASMO os fiscais e, de seguida, sabem o que ele faz? Estrategicamente já com as portas traseiras fechadas, o motorista praticamente IMPLORA aos fiscais para entrarem no autocarro. Disse-lhes que "faziam uma razia" ali, que o autocarro estava "cheio deles". O  motorista insistiu  muito, mas os fiscais recusaram. RECUSARAM!

Este episódio NÃO ME SAIU DA CABEÇA porque ali estava eu, acabada de ser multada e ali estava um autocarro CHEIO de multas por apanhar. Mas multas, segundo deu a entender o motorista, que seriam passadas a indivíduos que costumam viajar de graça POR SISTEMA. Não era apenas um, como eu, que estava exausta e confusa, mas muitos, que faziam uma algazarra no fundo do autocarro. OS FISCAIS viraram as costas e FORAM-SE EMBORA!

Se era porque tinham acabado o horário de trabalho, PORRA, então que me deixassem em paz, que o meu também tinha terminado ao fim de 10 horas consecutivas!

Lembro-me bem do cansaço desse dia. AVASSALADOR! O meu único objectivo nessa altura era descansar, descansar, descansar! Estava exausta! Sentia que precisava chegar a casa depressa, porque não ia aguentar ficar de pé nem 3 minutos. Aliás, deixei o corpo cair contra o autocarro, como se ele pesasse uma tonelada. Isto não JUSTIFICA viajar com título de transporte inválido mas explica a razão pela qual esqueci que tinha outro passe na carteira.

Achei INFAME que os fiscais não tenham atendido aos pedidos do motorista. Para mim tanto me fazia mas, pela perspectiva do que tinha acabado de me acontecer, julgo que é injusto que se procure a multa "fácil". Imagino que os fiscais não queriam ter problemas. Se os indivíduos fossem recorrentes ou nem tivessem bilhete para mostrar, ficava declarada a intenção de engano. Teriam de ir para a esquadra. Olhem só o frete! Ao fim do dia... os fiscais não quiseram ter esse trabalho.


Deste dia adiante, fiquei mais sensível a este tipo de situações. Vi, mais que uma vez, as pessoas que fazem a fiscalização a detectar que o passe recarregável azul de um utente estava inválido e permitiram-lhe que usasse uma das viagens ou então fossem comprar o bilhete ao motorista. Não vi ninguém passar de imediato para a multa e isso DEU-ME O QUE PENSAR.


Não teria o meu caso sido uma excepção? Não me foi dada a hipótese de comprar o bilhete!


Por força do DESTINO, quis a sorte que voltasse a cruzar-me com um dos "meus" FISCAIS em mais duas situações. Em ambas viajava num autocarro, num percurso totalmente diferente daquele onde me passaram a multa. Em ambas as ocasiões tinha acabado de carregar o PASSE MENSAL (desisti dos outros) em coisa de um ou dois dias. Quis confrontá-los e perguntar-lhes se estavam lembrados de mim. Mas a verdade é que AQUELE que me passou a multa, em ambas as ocasiões, AFASTOU-SE de mim, deixando que fosse o colega a pedir o título. Ainda tentei ver se a oportunidade de estabelecer contacto ocorria mas, muito sinceramente, fiquei com a impressão que o indivíduo me evitava.

Logo por sorte, eu saí-lhe na rifa mais vezes! E como que a comprovar a excepção que foi todo aquele episódio da multa, viajava como sempre viajei em todas estas décadas como utilizadora de autocarros da Carris: com título válido!

Foram os meus pais que me passaram este tipo de rectidão. Lembro-me de ter de ir para a escola e comprar o passe mensal, para depois fazer o percurso a pé. Mas tinha de ter o passe, porque era mais seguro, porque podia acontecer alguma coisa... Cheguei a comprar e não usar.

Mas isso são outras histórias.
A questão aqui é tentar perceber como é que se pode passar uma multa sem perdão em determinada situação e depois parecer existir benevolência para outras. E o que é pior, o que não me saia da cabeça: porquê os que são realmente infractores parecem sair-se impunes??

Porquê aqueles fiscais não fizeram o seu trabalho e foram solicitar o título de transporte aos passageiros daquele  autocarro, depois de me terem multado? Porquê a agulha no palheiro e não a palha inteira??

Qual é o critério?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Atropelamento fatal

Não é com alegria que vou revelar que não mais posso escrever o que escrevi no post anterior: "Sou abençoada. Nunca perdi ninguém de forma violenta, não conheço ninguém próximo que tenha perdido, nunca ninguém na minha família foi atropelado".

Embora não fosse próxima da pessoa que morreu por atropelamento, era família e não mais vou poder dizer que essa é uma tragédia que nunca me bateu à porta. Até é arrepiante pensar no assunto! Espero que não se aproxime e que esta causa de morte fique longe de se repetir a quem quer que seja que possa conhecer! Todos na minha família que já morreram passaram para o outro lado devido a causas naturais. E, agora, o fim da vida de alguém na Terra é ditado por um atropelamento.

Para sempre irei lembrar-me desta pessoa como alguém que me pareceu gostar muito de dançar e o fazia bem. Lembro-me de ficar, eu e outra jovem, a olhar para a técnica de dança desta pessoa e ambas dizermos que gostaríamos de saber dançar daquela maneira. Gosto de pensar em coisas positivas e lembrar as pessoas pelo lado bom.

Mas, com isto, o post anterior ganhou muito significado. Quando o escrevi, queria chamar a atenção para o que vejo acontecer todos os dias ao meu redor no que respeita à conduta rodoviária dos condutores e peões. Tudo o que escrevi, queria repetir agora, por outras palavras. Mas já está tudo escrito. Gosto de reler o que escrevo, peço que quem queira compreender o faça também, aqui e noutros locais, as opiniões e experiências de outros.

Partilhem! Divulguem!

Eu fiz isso e fiquei surpresa com os comentários que aparecem de pessoas que comentam, sempre e curiosamente de forma ANONIMA (acho que é de uma covardia imensa!), um assunto tão sério, de forma leviana. Recorrendo a palavrões, insultos, ofensas... Mas já se sabe que, na internet, há malucos para tudo!

Mas entre os doidos que não têm mais nada para fazer, existem outros tantos que lá escrevem coisas com sentido. Tocou-me especialmente os que dão os sentimentos à família. Cai sempre bem saber que alguém, algures, que não conhecemos, está a compartilhar de uma dor tão pessoal. São pessoas que também se preocupam e contribuem para trazer a DEBATE esta questão do comportamento automobilístico de que falei no post anterior. Relatam casos que viveram ou presenciaram. Existe, de facto, muito mau civismo automobilístico nas nossas estradas! E está a aumentar! Digam lá: um peão seria mortalmente e selvaticamente atropelado e desfigurado por um veículo se este circulasse na velocidade indicada por lei para o local? Não!

O meu coração vai para aqueles que lhe eram mais próximos, porque estão a sofrer horrores. Mas consola-me imaginar - porque só posso imaginar, que foi uma morte rápida demais para provocar dor. Não sei se ela a percebeu, mas julgo que sim. Existe sempre uma fracção de segundo em que a vida toda vem à memória, exactamente na fracção de segundo em que se percebe que é o fim dessa vida. Consola-me, porque já ouvi relatos de pessoas que sobreviveram a atropelamentos a afirmar não se lembrarem do impacto ou de sentirem dor. Mas vivem com as mazelas e os traumas, principalmente o de perderem alguém que não sobrevive!

E por essa razão, o meu coração vai também para o homem atrás do volante. Ele vai ter de viver, para sempre, com o facto de ter sido o responsável pela morte de alguém. No post anterior escrevi que não queria estar neste lugar. Não queria mesmo. Preferia ser a vítima, a carrasco, embora nunca queira nem estar perto de ser uma coisa ou outra! Culpado ou não pela situação, (não sei, desconheço as circunstâncias), a verdade é que agora é tarde demais. E NUNCA devia chegar-se ao ponto em que é tarde demais. Para ele, e para ela.

Ainda anteontem o sinal para peões ficou verde na passadeira que ANTECEDE uma rotunda, a qual preciso sempre de atravessar. Soube por instinto que não devia avançar até, pelo menos, passarem três carros
à minha frente. E foi o que aconteceu. Três viaturas passaram o vermelho a ALTA VELOCIDADE, e só depois de eu ver o quarto carro a abrandar é que atravessei a passadeira com o sinal verde para os peões.

É assim. Sempre. Agora digam lá: isto deve ser considerado normal porquê?

Peões e condutores: todo o cuidado é pouco e todo o cuidado serve para SALVAR VIDAS! A sua, em primeiro lugar, esteja você atrás de um carro ou à frente dele.

Agora que descanse em paz. Um dia estaremos todos desse lado. Só não se sabe quando e como, mas que seja sem sofrimento.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Conduta (muito) PERIGOSA

Aproveito que este blogue é sobre AUTOCARROS DA CARRIS, o que significa que se fala de conduta na estrada e outros temas relaccionados, para abordar TRÊS questões que têm vindo a perturbar-me.

Enquanto PEÃO, utente da CARRIS, desloco-me a pé para as Paragens de autocarro. Comecei a perceber que existem comportamentos automobilísticos repetitivos que são perigosos.

O primeiro e muito grave, é TODOS OS CONDUTORES QUEREREM PASSAR O VERMELHO. E muitos passam! À descarada! Perto de casa há uma rotunda e nunca atravesso a passadeira sem antes ver se o carro, pelo menos, abranda significativamente. É sinal de que me viu e que vai respeitar a paragem exigida pelo semáforo. Mas são mais as vezes que fico parada para que o carro que vem looonge, a grande velocidade, passe o vermelho. Se não o fizesse, ERA PASSADA POR CIMA.

Perto do trabalho existe uma passadeira que tem de se atravessar para chegar à paragem de autocarros. É uma estrada movimentada, nos dois sentidos, mas como fica numa localidade, os carros passam a uma velocidade normal. A questão é que QUASE NENHUM PÁRA na passadeira. Aliás, mais uma vez, se não fosse o PERMANECER PARADA até ter certeza de que fui vista pelo condutor, SERIA PASSADA POR CIMA.

Ao chegar a esta passadeira, páro, olho e fico a aguardar que um carro páre para me dar passagem. Mas, mesmo me vendo ali, MUITOS, mas muitos mesmo, não PÁRAM. Pelo menos uns dois fingem não perceber e passam sem dar prioridade, até que um terceiro abranda. Mas isto é só uma PARTE do CUIDADO que é preciso ter ao atravessar aquela pequena passadeira. Porque só o carro que vem da esquerda PAROU. Os que seguem da DIREITA não páram. Muitas vezes, mais do que gostaria que fossem verdade, sou obrigada a PARAR a meio da passadeira porque o carro que vem da esquerda NÃO ME VÊ na estrada. E o local não tem qualquer obstrução. É uma recta. As pessoas simplesmente vêm DISTRAÍDAS, não vêm o GRANDE SINAL DE TRÂNSITO que indica a PRESENÇA DE  PASSADEIRA exactamente nesse sentido e, muitas vezes, mais do que gostaria de ter confirmado, os condutores estão totalmente DISTRAÍDOS. Uns não estão a olhar em frente. Ora se distraiem a olhar para o lado para reparar em alguém sentado na paragem, ou conversam com alguém no lugar do pendura, ou decidem dar uma olhadela para o telemóvel que seguram numa das mãos. Mas não olham em frente, convencidos que estão que a estrada é deles.

um caso
Eu o vi, muito antes dele me ter visto. Um senhor não ganhou para o susto quando me percebeu parada a meio da passadeira, com ele a atravessá-la. Fez uma cara de espanto, medo, surpresa, gesticulou com as mãos e acho que balbuciou algo no sentido de se desculpar. Mas foi tudo rápido, como sempre é quando o carro está em movimento. Se eu não estivesse parada, lá o carro me tinha PASSADO POR CIMA!
Num instante, aquele condutor seria um criminoso, responsável por um homicídio.
.
Ficar parada no meio da passadeira deixa-me pouco tranquila, porque sei que o veículo que acabou de parar já está a arrancar. Este nem espera ver o peão chegar ao outro lado da estrada. E o que acontece? O peão, que está a atravessar a passadeira, tem de ficar PARADO no meio, enquanto os carros que vêm da esquerda e da direita circulam atrás de si e à sua frente. Isto numa localidade pequena. Ás vezes não avançam mais nada senão dois metros, porque os carros à frente estão a ceder passagem a outros. Então, para quê este comportamento?
.
Ao chegar à outra margem, vou para a paragem, onde se encontra uma senhora. Ela não presenciou a minha tentativa de atravessar a estrada, mas decidi à mesma aliviar-me um pouco daquele comportamento automobilístico que vinha a me incomodar cada vez que fazia aquele trajecto. Disse-lhe: "Nesta passadeira, se eu não tomasse cuidado e parásse, já tinha sido atropelada uma série de vezes!" Ela ficou espantada e disse que a sua mãe morreu assim, atropelada.
.
Portanto, não há nada de humorístico nestas situações, pois não? Está tudo muito bem, até algo sério e grave acontecer. E depois? Como é que vai ser? Dá para restituir uma vida a alguém? Dá para apagar um gesto do qual nunca se consegue perdoar a si mesmo? Dá?
.



Eu não conduzo e confesso ter receio da minha conduta quando o fizer. Um carro, como tudo o resto, conduz-se criando-se o hábito e a condução é algo que se executa mecanicamente, por vezes como um reflexo, sem se pensar. Poucos condutores estão a pensar no que estão a fazer. E, também, existe o comportamento de grupo que acaba por influenciar. Se quase todos aceleram para atravessar um semáforo quando ele já está vermelho, como é que se muda este comportamento? O próximo a tirar a carta, vai demorar quanto tempo até fazer igual?
.
Uns dias antes tinha visto a brigada de trânsito por toda a parte, a mandar parar os carros para verificar os documentos e sei mais lá o quê. Na altura nem pensei em lhes dar valor, porque, sempre temos cá para nós, que a polícia tem este comportamento porque, ás vezes, gosta de "trabalhar para a multa" - ainda mais, quando se aproxima o final do mês. E é vê-los, por toda a parte, escondidos em cantos e curvas...

Mas, vamos ser sinceros. Mesmo que exista má vontade da parte das autoridades, são autoridades e estão a executar um trabalho que é muito valioso, pois pode salvar vidas.
.
Um comportamento automobilístico irresponsável deve ser punido. Uma vez ouvi na televisão um senhor dizer que "quem tem as mãos num volante tem de perceber que tem nas mãos uma ARMA que mata". Essa definição nunca mais me saiu da cabeça. Até então, não tinha pensado o quanto era verdade.

Sou abençoada. Nunca perdi ninguém de forma violenta, não conheço ninguém próximo que tenha perdido, nunca ninguém na minha família foi atropelado. Sei de casos, vi muitos em menina, quando morava perto de um cruzamento apelidado de "zona de acidentes". O som de sirenes da polícia e ambulâncias eram sons banais. Mirones automobilísticos também, pois muitas das vezes, ao se passar de carro, lá estavam as pessoas estendidas no asfalto, no meio de todo o aparato. Recusei-me sempre a olhar. Podia ver, por calhar, mas nunca olhei para ver sangue, membros partidos, cabeças rachadas, fosse o que fosse que levava as pessoas a quererem espreitar o acidentado. E se não podia ajudar, também não ia ali ficar a atrapalhar.

25 93 AJ
CARRO PRETO
CONDUTOR MASCULINO
MODELO ANTIGO

Foi tudo o que registei de um comportamento totalmente absurdo que vi. Num sítio onde é quase impossível passar com velocidade, num local pacato, um metro antes de se contornar uma rotunda, surge, quando estou a atravessar a passadeira, este carro preto, muito, mas muito em excesso de velocidade. Parecia um louco. Ainda fiquei à espera que abrandasse, mas não demonstrou quaisquer sinais disso. Eu já ia na passadeira estava ele a aparecer. Não queria correr na passadeira por ele vir a grande velocidade. Na verdade, não corri. RECUSEI-ME! (estava ali após uma caminhada de 20m sempre a subir ruas íngremes, debaixo de um sol avassalador! Finalmente tinha chegado à parte plana do percurso e agora aparecia um louco!) Mas acelerei o passo e desviei-me, embora já estivesse mais do lado onde não passam carros do que daqueles centímetros onde ia passar aquele. O HOMEM que segurava O VOLANTE deste carro não abrandou nem um instante. Acho até, que acelerou mais. Não abrandou nem para contornar a rotunda, foi sempre a correr, mantendo a alta velocidade, quase que o carro voava! Eu fiquei ali, parei e olhei para trás, para assistir ao comportamento do condutor. Eu e um senhor distinto, que deduzi que vinha da escola de condução ali ao lado, ou do prédio onde esta fica. Ambos um tanto incrédulos, a reprovar um comportamento assassino destes.

Isto aconteceu já faz umas semanas. Estava aqui a arrumar papéis, quando dei com aquele onde anotei a matrícula do carro. Para marcas não sou boa, mas sei anotar matrículas. Existem muitos comportamentos de risco que se vêm na estrada. Mesmo quando dentro de um AUTOCARRO DA CARRIS, assiste-se a muita coisa. Muitas vezes, os autocarros não conseguem seguir percurso porque um automóvel atravessa-se no caminho quando já tem o semáforo vermelho para si e não pode mais avançar. Existem muitas coisas mas, esta do carro preto matrícula 25 93 AJ... será que já matou alguém?
.
Há uns anos, durante uma viagem noturna de carro, direcção Ribatejo-Lisboa, quando ainda se faziam percursos por estradas regionais e pouco por autoestradas, o carro onde seguia foi ultrapassado por um acelera, que continuou a ultrapassar todos que estavam à sua frente de uma forma perigosa e agressiva. Era um carro meio desportivo vermelho e comentámos que aquele comportamento não era aceitável. "Aquele ainda se espalha por aí ou pior: mata alguém!" - dissemos a censurá-lo. Uma hora depois, ultrapassámo-lo. Tinha batido contra um muro e a viagem terminou por aí. Acho que não matou ninguém. Não dessa vez...

A CONDUTA NA ESTRADA é um assunto muito importante, que hoje me apeteceu debater, após acumular uma série de histórias e vier outras tantas. E as suas... quais são?

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A multa

Passaram-me uma multa num autocarro da Carris. Já faz algum tempo e tenho vindo a querer escrever sobre o assunto aqui, se bem que, sobre a situação em si, pouco tenho a dizer. É mais o que veio a seguir que foi um "open eyes".
.
A multa foi-me passada por viajar com um título de transporte inválido. Ou seja: o passe tinha expirado. Eu, que rejeitei a boleia de uma colega, saí exausta do trabalho, corri bastante (até ficar com um sabor estranho na boca) para conseguir alcançar a camioneta a tempo e, feliz por ter tido sucesso, eis que chego a Lisboa e fico logo novamente triste, porque um dos autocarros que posso apanhar está à distância de mais uma corrida! Mas é o próprio cansaço e a vontade de tirar os sapatos e deitar algures para descansar que me motiva a mais uma maratona. Consigo entrar e passo a carteira na máquina, sem ver a cor que esta emite, mas atenta ao som. Distintamente, escutei o ruido da validação.
.
Depois encostei-me junto às portas de saída para recuperar o fôlego. A paragem seguinte é aquela onde queria sair. Mas o cansaço é tanto que me afecta o pensamento e, por essa razão, pelo cansaço, não saí e decidi seguir mais duas paragens, tendo depois de andar e atravessar três estradas para apanhar uma outra viatura.
.
Chegando a essa paragem, convenci-me que o autocarro ia fazer uma curva e parar exactamente na paragem onde pretendia ficar. "Como não me lembrei disso antes?" - pensei eu, contente por isso significar que não tinha de correr nem de andar mais. O autocarro parava uma paragem de transbordo! Só tinha de descer e aguardar. Nada de caminhadas ou correrias! Pelo menos assim pensei, mas o cansaço deturpou-me o raciocínio, pois o percurso da viatura não era o que estava a pensar.
.
Antes porém, de arrancar, entram dois fiscais no autocarro. Recordo que estava na paragem onde devia sair, mas decidi continuar para descer na próxima, que, afinal, não era a que eu pensava que era. Estava, portanto, junto à porta de saída. Nesse instante duas ou três pessoas passam por mim e abandonam a viatura um pouco atrasadas, pois as portas já estavam abertas à algum tempo.
.
Não sei se é por estar à porta, mas a verdade é que um dos fiscais chegou-se directo a mim para me pedir o passe. Tiro-o da carteira e dá inválido. Ao que parece, estava inválido há 2 dias, mas como na véspera tinha tido boleia e não precisei usá-lo, o facto passou-me ao lado. Em todo o caso, tenho comigo "passes de emergência". Os tais cartões azuis, com ao menos uma viagem. Tinha comigo uns 10! Acabo sempre por comprar um novo, por o antigo estar numa outra carteira ou mala... Mas desses 10, 8 sabia estarem vazios ou com uma quantia de dinheiro insuficiente para uma viagem. Tanto assim era que estavam já de parte, para não me confundirem.
.
O fiscal pergunta-me se o passe validou verde e pede-me outro título de transporte. Eu respondo sim à primeira pergunta e não tenho outro título de transporte para lhe dar. Esqueci-me totalmente da existência dos cartões azuis e passei-lhe então um dos verdes, pois lembrei-me subitamente de o ter na carteira. A máquina nem sequer o leu, passou como inválido.
.
Entretanto já estava a sentir alguma aflição porque reparei que o autocarro não estava a seguir o percurso que imaginei e me afastava do meu destino. Perguntei aos senhores o que se passava a seguir. Disseram-me que tinham de passar o papel, mas que depois eu podia explicar a situação por telefone e o mais provável era não ter de pagar nada se conseguisse argumentar. Ela praticamente me assegurou disto.
.
Saimos na paragem seguinte, eles pediram-me os dados, preencheram uma folha e depois entregaram-ma. Senti angústia. Toda aquela situação imprevista... num minuto estava com pressa para chegar a casa para repousar, no outro já estava naquela situação. Não consegui pensar em mais nada o dia todo. O desenrolar dos acontecimentos passavam na minha cabeça como se fosse um filme. Todos os pormenores. Decidi até experimentar todos os cartões que, estupidamente, lembrei, depois de já ter tido a multa, que tinha comigo. Quando me perguntaram, não me recordei dos azuis, 8 deles guardados numa bolsa à parte. Esses estavam todos sem fundos e, por essa razão, a minha mente simplesmente esqueceu-se deles. Quando passei um dos outros, o mesmo estava válido.
.
Telefono então para o número que me foi facultado e fico a saber que não ia poder argumentar coisa alguma, explicar a situação. Ali só me confirmavam que tinha uma multa a pagar. Fui então até ao local, convencida que aí ia, então, poder fazer o que o fiscal me disse: explicar a situação e, se a mesma fosse compreendida, a multa seria eliminada. Para meu espanto, a primeira coisa que o funcionário me diz é que ali eles não fazem nada, só recebem os pagamentos. Se eu quisesse protestar, como está no meu direito, tinha de contactar a entidade reguladora, o lnstituto da Mobilidade e dos Transportes. O Estado! Saí de lá sem pagar.
.
Telefonei então para a entidade. Por esta altura eu sentia revolta por todo este processo falso e burocrático. E sentia determinação em levar o meu sentido de justiça adiante. Tudo parecia estar "montado", um esquema bem montado, para a pessoa não conseguir defender-se. Pensei cá com os meus botões que aquilo não foi o que o fiscal que me multou deu a entender. Essa informação ele deixou de parte! Depois veio a revolta, por tudo: a injustiça da situação, o nunca ter tido uma única infracção em todos estas décadas como utente da Carris e isso nem ser levado em consideração, o já ter feito quilómetros a pé por me faltaram os tais 20 cêntimos para o bilhete.. como podia agora ter o rótulo de "infractor"?? Isso aborreceu-me muito mais que a multa em si! A ideia de ter o meu nome «sujo» num registo qualquer com a indicação de INFRACÇÃO era a mais dolorosa das injustiças, aquela que me movia a combater a situação com determinação.
.
Ao telefone fui informada que ali não havia espaço para conversas! Ou pagas, ou vais a tribunal. Simples e absolutamente revoltoso para quem foi apanhado numa situação singular. Caso provasse em tribunal que não viajava com título inválido, não pagava a multa. Mas se não o provasse, tinha de a pagar, então mais pesada devido ao período de 5 dias úteis já ter expirado, mais as despesas do processo. Além disso, precisava de TRÊS TESTEMUNHAS.  Estava tudo no verso do papel da multa e era só para isso que me souberam direccionar. Mas esta pessoa ao telefone facultou-me uma outra informação útil - também ela impressa em letras pequeninas no regulamento no verso do papel da multa mas pouco perceptível. É que, caso a pessoa pague a multa no espaço dos 5 dias, a mesma tem uma diminuição. Ora, isto é tentador! E indicador de mais um facto "sujo" nesta história: eles querem é dinheiro. Tanto que até fazem descontos de multas, se fores rápido a pagá-las!
.
Ponderei a situação. Queria justiça, mas não queria ter aquilo como uma espada em cima da cabeça, a arrastar-se durante meses, idas a tribunais, solicitação de três testemunhas... não. Isso é acrescentar mais stress à situação, ao invés de irradicá-lo pela raíz. Mas o factor deciso para mim foi uma informação que me facultaram no local onde fui pagar a multa.
.
Com tudo automatizado, o sistema regista quantas vezes um passe é dado a ler à máquina. O senhor lá me disse umas datas em que passei o cartão inválido na máquina, dando a entender que eram viagens não pagas, que eu sabia ser mentira. Ou melhor: sabia que isso não significava que tinha viajado em fraude, pois o que se passava é que, muitas da vezes, por os passes estarem juntos na carteira, ainda que separados entre si, aquele que a máquina identificava primeiro era o cartão suplente. O meu passe tinha uma leitura difícil nas máquinas desde a altura da sua obtenção. Às vezes até me irritava, porque me fazia perder tempo. Estava válido, tinha o recibo, confesso que, após umas tantas tentativas frustradas para a máquina o reconhecer, ntrei algumas vezes autocarro a dentro, não bloqueando assim a fluidez dos passageiros. Era normal o passe ter meses em que trabalhava bem, outros em que era difícil dar leitura. Atribuí isso às máquinas onde era carregado. A situação durou algum tempo, até que um dia um motorista ensinou-me um truque: dobrar ligeiramente o cartão. De facto, aquilo funcionou às mil maravilhas, e, desse momento adiante, era  raro as máquinas desconhecerem o cartão. Mas com isto, a verdade é que, muitas vezes, quando passava a carteira na máquina e ela validava o título, estava a ler o cartão suplente ao invés do passe mensal. Ou seja: estava a gastar o dobro! O cartão acabava por esgotar viagens e, cada vez que era novamente lido pela máquina, registava como inválido. TODAS essas vezes ficaram registadas na base de dados. E isso era uma injustiça e mais um acontecimento circunstâncial daqueles que parece que tudo conspira contra a reposição da verdade. Confiar demasiado nas máquinas dá nisto. Elas não contam toda a verdade! Só uma versão. A automática!