sábado, 6 de abril de 2013

Transporte predilecto e... AGARRA QUE É LADRÃO!

Se me perguntarem qual é o meu transporte favorito para andar na cidade eu tenho de dizer que é este:


O ELÉCTRICO!! Mas tem de ser DESTES, dos antigos.


Só trazem vantagens. São rápidos. Muito rápidos. Dá gosto vê-los a arrancar depois de estarem parados. Já vão a velocidade. E adoro o som da campainha. São confortáveis. Mesmo em pé, a sensação é boa. São espaçosos. Nunca vi nenhum transporte como este. Pequeno por fora, espaçoso por dentro. Faz lembrar os Mini do Júlio Isidro. Não trasandam como os outros. Não são desagradavelmente ruidosos como os outros. Não são uma estufa abafada e quente. A temperatura é sempre agradável, seja em que altura do ano for, no frio ou no quente. Estes não vêm equipados com ar condicionado e nem precisam! Tem janelas. Janelas que se abrem! É delicioso, proporcionam quando abertas uma viagem que enche muito mais os sentidos e se torna muito mais tranquila e serena. Cada janela tem uma lona, que serve para ser baixada quando o sol está a incomodar. Os eléctricos compridos não têm nada disto. Têm um aspecto decadente. Velho. E os eléctricos velhos podem ser velhos, mas jamais perderam a juventude. Já os compridos, só pareciam ser novos durante as primeiras semanas de uso. Jamais se podem sequer comparar à prazerosa viagem que os antigos proporcionam, Nunca! É até ofensivo. Deviam remeter-se para a sua insignificância e referenciar o «mestre», o exemplo da perfeição: o eléctrico antigo!

Acho que lá no passado as pessoas que mal tinham carros e precisavam de se deslocar souberam bem o que faziam ao apostar no eléctrico. Andam agora a fazer automóveis movidos a electricidade, quando os velhitos amarelos ainda cá estão, a lembrar, afinal, de que fibra são feitos! A indicar o caminho. Todos estes anos, debaixo do nariz de todos, a mostrar que não morreram, porque são bons!



Já fazia muito tempo que não viajava de eléctrico. Hoje entrei num dos compridos e não foi com surpresa que percebi o quanto cheirava mal. Também existiu durante toda a viagem um barulho de buzina, uma coisa que arranhava no ouvido e que não havia forma de se calar. Ás tantas pára numa paragem, os passageiros saem, outros entram, mas não há meio de retornar a marcha. É então que percebo que está com dificuldades em que uma das portas electricas se fechem automaticamente. Quando dei conta já o motorista estava a tentar, com uns safanões e puxões, por aquilo a funcionar. Um passageiro ajudou. Mas qual quê. Nada. Uma estrangeira turista cuja língua não soube identificar disse uma só palavra: "avaria". Durante toda a viagem não entendi nada do que dizia com as outras, mas esta palavra dispensou tradução. O motorista segurando uma espécie de caixa na mão falou que tinha de a "travar". E depois disto, as portas, pelo menos por aquele período, voltaram a funcionar. Isto do "travar" (será uma espécie de reset? Desligar e ligar de novo?) fez-me  recordar que uma das portas do electrico estava fechada por fora, obrigando os passageiros a se deslocarem a outras mais próximas. E recordei que existe sempre umas tantas que não estão a funcionar. Já andei num eléctrico comprido que tinha as três portas centrais travadas! Aquele sinal luminoso vermelho que devia indicar a paragem seguinte, também estava desligado. E não existia a VOZ a comunicar a próxima paragem. Tanta «merdinha» com estas coisas para não funcionarem. Ao menos que tivesse UMA vantagem sobre os eletricos antigos, mas qual quê! Nunca nada funciona... são uma lata velha de plástico PVC e metal que por ali anda, com aparelhos electricos como portas, visores e ar condicionados que NUNCA estão a funcionar e sempre estão AVARIADOS. As estrangeiras levantaram-se do assente para ir espreitar o mapa em cima da porta e diziam os nomes dos sítios. Queriam saber ONDE estavam. Mas aqui em Lisboa uma coisa sempre faltou à maioria das paragens: O NOME. E assim, as estrangeiras fizeram o percurso irrequietas, com medo de falharem a paragem onde queriam sair e sem ter a mínima ideia de quantas faltavam ainda para lá chegar. Cada vez que o electrico parava, elas olhavam para a paragem, mas aquele friso amarelo que devia conter o nome do local, só é amarelo. Mais nada. 


Também eu precisava dessa indicação. Qualquer um precisa. É um sinal de comunicação IMPRESCINDÍVEL. E se for para confiar na voz electrónica de bordo, é para esquecer. Ou não funcionam como era o caso, ou está dessincronizada e vai anunciado a paragem errada... Isto tudo aliado ao mau cheiro, ao ruído de buzina constante, ao abafado e ao calor intenso do sol... Por favor! Chamar estas coisas de electricos, quando o "pai" destas criaturas anda ali sempre para as curvas todo gaiteiro e elegante, é uma ofensa, não? São antes umas latas que andam sobre os carris rasteirinhas ao chão, que é para facilitar o trabalho aos CARTEIRISTAS...

E por falar nisso... Presenciei um furto de uma carteira. Apontei o ladrão às vítimas, que se deram conta do encontrão e pularam para fora do electrico atrás dos dois infractores. Dois homens velhos, má aparência, um de casaco castanho outro de casaco preto. Sairam tão depressa quanto entraram mas calhei captar a cena de um a esconder os cartões com as mãos junto à barriga e a fazer sinal para o outro. Apanhados, ainda se fizeram passar por beneméritos, dizendo que a carteira "estava no chão". Mas fugiram com ela! E já ia longe, não fosse eu ter apontado o que vi. O jovem casal que foi vítima do furto, manteve-se tranquilo chamasse e talvez tivessem chamado a polícia para reaver a carteira e os pertences, não fosse eu ter apontado um «senhor a sair com uns cartões e passes na mão". Nem sei se os gatunos tiveram tempo de surrupiar dinheiro, foi tudo muito rápido e as vítimas após reaverem a carteira, partiram de seguida noutro transporte, sem grandes trocas de palavras. 

Os larápios ao constatarem uma nova multidão a formar-se numa outra paragem, voltaram a colocar o "uniforme" que era os casacos que haviam despido e a se juntar à multidão. Nenhum olhar reprovatório meu lhes fez espécie. Mas quando vi uma jovem mãe e filha muito apressadas a porem-se a jeito, avisei-a que andavam a assaltar por ali. Fui... específica. A senhora afastou-se, mais a criança, assim que ouviu um dos homens a dirigir-se a mim de forma ordinária. Ripostei com tranquilidade mas sem confronto de maior. Porém, talvez devesse ter começado a fazer ali uma peixeirada, a gritar muito alto "apanha que é ladrão", a apontar para aqueles dois salafrários, que é para a multidão que vai e vem saber que ali estavam em perigo. Para ver se os dois se mancavam e davam o dia por encerrado... 

Pensei em comunicar à polícia, após chegar a casa. Mas ao mesmo tempo, muita coisa me ocorreu. Pensei que seria ingenuidade minha a polícia não saber, naquele sítio turístico e apinhado de gente a ir e vir, que existem furtos. A esquadra mesmo ali ao lado, assim como a guarda do presidente da república, e os assaltos ali à porta de "casa", digamos assim. Não só deviam saber, como deviam os levar e depois os soltar... É preciso apresentar queixa e hoje em dias as pessoas nem sempre se dão ao trabalho de passar por esse processo que envolve tribunais e testemunhas. E pensei também no quanto devo ser feita mesmo de outra fibra, tal como os velhinhos eléctricos. Nem parece que sou cria da cidade, mas sou. Os próprios assaltados permaneceram muito tranquilos e simplesmente foram recuperar a carteira, deixando os gatunos prontos para a próxima. Se calhar o ficar calada e fingir que nada vi era o certo. O certo para uma cidade destas. Mas eu não só apontei na direcção do gatuno, como acabei por dizer na cara dos dois que andavam a assaltar. Assim, na lata. Podia arriscar-me com isto... Mas na altura não me ocorreu. Tenho um senso do que é correto e do que não é que parece que pertence ao passado, a uma geração do passado, que se guiava com mais proximidade dos valores morais, devido ao papel presente da religião, que levava as pessoas às missas de Domingo e assim, de certa forma, as mantinha mais conscientes do bem e do mal. Eu nem fiz catequese! Não fui «exposta» a esses ensinamentos, a esses ambientes. Sou da cidade e depressa percebi que existe malícia, mentira, perigo, malandragem e fingimento. E apesar de tudo isto, ao invés de ficar caladinha... falei. 

Deve ser por isso que gosto dos velhinhos eléctricos! Tal como eu, são feitos com fibra de qualidade... :)