sábado, 9 de maio de 2009

Coimas

Tenho lido nos jornais que o governo pretende elaborar leis que visam penalizar aqueles que se deslocam na capital de automóvel, sem que este vá com mais de uma pessoa.
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Não posso concordar. Como pessoa que não tem veículo próprio e vive na cidade de Lisboa, deslocando-se de sítio para sítio usando os autocarros da Carris, sei bem o que é ter o trânsito a atrapalhar o andamento do bus e sei também o que é engolir toda a poluição atmosférica libertada pelos veículos em movimento, do tanto que aguardo nas paragens à beira da estrada e do tanto que caminho por passeios e estradas sem passeios, por onde circulam as viaturas poluidoras.
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Nem por isso concordo que se sacione desta maneira as pessoas. Não me parece correcto e até me parece um tanto ridículo. Além disso, fico com a nítida impressão de que daqui só pode resultar um desenrolar de injustiças. Outra coisa que me incomoda é que estas medidas firmes estejam a ser consideradas não porque o trânsito é uma fonte extraordinária de poluição, nem tão pouco vão melhorar as infra-estruturas da rede pública de transportes, para que uma pessoa com automóvel escolha deixá-lo em casa. Esta medida só está a ser estudada, porque existem muitos carros.
O verdadeiro flagelo do trânsito, é a poluição. Esta sim, foi alvo de alguma consideração ao longo dos anos pelos governantes, mas numa dimensão muito "mixa". Não se notam as diferenças. Lisboa tem fog visível a olho nu. Os meus pulmões há muito que o sabem. Não se surpreenderiam se alguma entidade credível viesse a público dizer que em determinadas zonas da cidade não é recomendável respirar o ar, devido à atmosfera estar com veneno tóxico. Não é de hoje que os pulmões se queixam. Nem o hábito que adquiri de prender a respiração e inspirar o menor número de vezes possível parece lhes ter resguardado muito a saúde. Claro que a quantidade de veículos também atrapalha. As deslocações de lugar A para lugar B são estraordináriamente demoradas. Mas se esse fosse o preço a pagar e em troca nos dessem veículos não poluidores a 100%, eu aderia. Você não?
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Que bom seria, se os veículos «cuspissem» aroma a rosas! Tanto me delicia, o perfume das flores...
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Mas ao invés de ser este o principal problema na lista de prioridades, é o segundo. E punir pessoas só por não andarem com outras dentro do carro, é ridículo. Sabem o que vai acabar por acontecer? As pessoas vão encomendar por catálogo aqueles "bonecos de companhia" insufláveis que existem nos EUA, que simulam a presença de mais do que uma pessoa no veículo, para dissuadir possíveis criminosos em situações particulares.
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Imaginem-se as injustiças que uma tal medida pode originar. Vamos supor que, a pesar dos 25 anos contínuos de experiência que tenho de uso dos autocarros da Carris, amanhã ganhava o Euromilhões. Após pagar ao Estado a sua parcela da fortuna que me coube, decido comprar um carro. Ora, não tenho família, nem vizinhos que trabalhem no mesmo sítio que eu. Vou no meu carro sozinha e levo uma multa? Ou pago mais impostos que outros? E todos aqueles 25 anos em que andei aos empurrões e pisadelas nos transportes públicos? Não contam? .
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Quero com isto dizer que fiz a minha parte e se, na "velhice" conseguir ser um pouco "egoísta", deixem-me ser, pois já sacrifiquei muito e gostaria de experimentar um pouco de conforto... inventem carros 100% ecológicos que se desloquem há velocidade máxima de 80 km à hora. Isso também impediria outros dissabores relaccionados com os excessos de velocidade e mortes na estrada. Mas sabem? No fundo, é a própria "indústria" que enriquece à custa do ambiente, que depois vem obrigar e a punir as pessoas, que não passam de peões num jogo de interesses económicos.
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1 comentário:

  1. Concordo contigo... este tipo de medidas radicais origina de facto muitas injustiças... uma medida generalista não contempla o facto de existirem casos e casos e o problema é que cada caso é que deveria ser analisado, mas isso dá muito trabalho :)

    Acho que o objectivo a longo prazo é conseguir que aconteça em Lisboa o que acontece em Londres, é pena é que a rede de transportes públicos não tenha nada a ver... :P

    (Raio de querer fazer omeletes sem ovos... :|)

    Quando conseguirem implementar essa medida em Lisboa, já os veículos a hidrogénio vão ter uma utilização mais generalizada... não sei, não percebo... devo ser mesmo burra... :P

    :D Beijosss, vizinha!

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