quinta-feira, 18 de junho de 2009

Os passeios fazem-se para os automóveis

O percurso que percorro a caminho do trabalho é um tanto longo e é feito a pé, pela estrada, por causa da inexistência de passeios e a falta de vontade da companhia de transportes em levar o trajecto até ao movimentado local. Por isso, quando começaram a construir um passeio, fiquei satisfeita. Era sinal que tomavam em consideração os peões, que alguém pensou em nós.
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Contente com a perspectiva de estar, a curto prazo, fora da beira da estrada e caminhar segura num piso liso, fiquei a aguardar o término da obra. Ia acabar aquele incómodo de, a cada passo dado, estar a pisar pedrinhas, buracos, terra e asfalto ao mesmo tempo...
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A coisa demorou. A bem da verdade, uma parte menor do comprimento do passeio ainda está por fazer. Mas a maior parte ficou feita, após uma demorada fase em que não se entendeu a razão da falta de avanço no calcetar.
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O percurso faz-se a pé em 20 minutos e é composto de subidas e descidas a pique. Um automóvel faz este percurso em 1 minuto mas para os peões é preciso multiplicar este tempo por 20. O passeio percorre 10.
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.Pois para minha surpresa, um dia caminhava muito bem pelo outro lado da estrada, quando vi ao fundo da rua um automóvel estacionado em cima do passeio. Fiquei preocupada. Será que iam colocá-lo ali todos os dias? A minha intuição dizia que sim. E foi o que aconteceu!

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Nem esperaram o novo passeio "esfriar" para transformá-lo num parque de estacionamento. Agora, todos os dias, são 2 os automóveis que o peão tem de contornar, se quiser seguir caminho pelo passeio. Ou seja: o peão, para passar, tem de voltar para a estrada.




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Entristecida com esta falta de consciência cívica tão comum de ver em Portugal, desabafei com uns amigos (que têm carro). O mais aborrecido desta história é que todos ficaram do "lado" da pessoa com o automóvel. Um até me disse que ia engolir as palavras quando tivesse um automóvel. Fiquei preocupada com o descaso e a aceitação desta falta de civismo. Disseram-me que ia mudar de ideias quando tivesse um carro, que se calhar a pessoa já estacionava ali antes, que não tem espaço para estacionar noutro local... muitas desculpas para defender a atitude do automobilista, e nenhum esforço para se colocarem no lugar do peão.
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Nota: PASSSEIO: ver definição no dicionário.

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Não fui ver, confesso, mas tenho as minhas dúvidas quanto ao facto de este ser construido com a finalidade de ser estacionamento de veículos. E agora a parte da história mais revoltante: Todas as casas que o passeio percorre são vivendas enormes, com garagem! Quem estaciona ali ao pé de casa, tem garagem! Com espaço para, no mínimo, dois carros. Digam lá se não é o cúmulo...
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Mesmo que os automóveis não pertencessem às pessoas que ali moram (o que verifiquei não ser verdade), existe apenas uns metros à frente, um desvio para estacionar carros. Estas pessoas é que são demasiado preguiçosas para andar, mesmo que sejam apenas três passos. Querem o carro mesmo debaixo do nariz, sobem o passeio, mas têm demasiada preguiça para abrir o portão.
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Numa ocasião, caminhava apressadamente estrada acima, com o olhar fixo no asfalto, sabendo que chegaria ao meu destino com pouco fôlego e pensei: tomara que não tenha de me desviar daqueles obstáculos! (automóveis). Ao mesmo tempo, um pedaço de vidro no chão cintila com o sol. Um pensamento rápido passa pela cabeça... terá sido um sinal para tomar uma atitude de "justiceira"... ? Que me dizem a este disparate?
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Um dia de muito sol, muito calor, muita sede, muito esforço físico, finalmente um passeio... para carros! Sendo assim, coloquem parquímetros. Aposto que o passeio voltava para os peões! Nós não queremos estacionar. Só estamos de passagem!

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Contem lá: já cederam ao instinto de fazer um disparate por vingança ou como lição? Contem!

3 comentários:

  1. Hummm... só quando tenho a certeza que da outra parte percebem o que eu estou a tentar dizer! :D Se o fizesses achas que a pessoa em causa compreenderia o que tentavas ensinar? Eu tenho a visão dos dois lados; já caminhei muito a pé, mas sei do pavor que é quando queres largar o carro e não tens onde... e então em Lisboa, eu calculo! Compreendo as duas partes e portanto chego apenas a uma conclusão: de facto, as pessoas não deveriam estar tão concentradas nos grandes centros da forma como estão... elas próprias não têm consciência da perda de qualidade de vida que é viver assim... acho também que há muita responsabilidade política e actualmente simplesmente não existem preocupações ao nível de ajudar a desenvolver o interior... todos ganharíamos com isso, como deves calcular... enfim... :P

    Beijinhos grandes, vizinha!!

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  2. Neste caso, estamos na província. Onde não há passeios. Diante de moradias com espaçosas garagens. A 2 metros de um refúgio de automóveis. Parece-me que não é uma questão de insensibilidade para com os 2 lados da moeda. É preguiça. Revoltante.

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  3. A parte das garagens é mesmo preguiça... mas nos arredores das grandes cidades a densidade populacional continua a ser superior à que encontramos aqui e ouve... mesmo aqui, até na minha rua, é uma barafunda para largar os carros... mas as pessoas entendem-se é o que vale... :P Haviam de se poder colocar no bolso, os sacaninhas dos carros eheheh :D

    Mas tens razão, claro que sim... é de facto uma gincana, e ainda quem não tem problemas, se vai safando... agora pessoas idosas, invisuais, enfim...

    Beijoka!

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