quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Saídas forçadas

Já me aconteceu um certo número de vezes e acho que é algo que merece referência. Volta e meia, quando não estou entre as primeiras da fila para sair do autocarro, acaba que, por vezes, a porta se fecha ainda comigo a descer os degraus. Quase fico entalada na porta, tendo mesmo, chegado a ficar. E isso deixa-me muito decepcionada. Qual é a pressa? Para quê esse gesto?

Algumas vezes dou prioridade às pessoas que se aglomeram nas portas de saída e se enfiam umas entre as outras, quase se atropelando em encontrões, para sair o mais rapidamente possível. Essa pressa em ser o primeiro a chegar "à meta" (ou não ser o último) é algo que já analizei num outro post. Pessoalmente, acho que podemos ser rápidos sem ser apressados. Sem precisar pisar alguém, dar encontrões, deixar nódoas negras... entendem? Uma vez fui pisada por uma senhora e gritei «Aí!» um pouco alto, ao que ela se surpreendeu. Mas foi tão rápida a correr para sair que o meu dedo ainda latejava de dor, já ela estava fora do autocarro. Era já a 3ª pisadela que eu levava naquela curta viagem e ela me pisou com força e precisão no meu dedo machucado.

Já aqui disse e volto a repetir. Sou bem ágil e rápida a me movimentar, mas não gosto de atropelos. Daí que, quando vou a sair pela porta, muitas vezes tenho de esperar que a pessoa à frente deixe o caminho livre. É que há outro factor interessante em tudo isto: as pessoas têm uma pressa enorme em serem as primeiras a sair, mas, assim que estão nos degraus, perdem velocidade e, não raramente, viram obstáculos a quem ainda precisa sair. Principalmente quando, uma vez fora e do lado da porta, ficam parados, ainda a decidir para que lado virar. Quem vem atrás tem de parar e esperar que saiam da frente para poder descer.
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Ora, comigo já aconteceu que o motorista carrega logo no fechar das portas ainda a pessoa à minha frente está a descer os degraus. O motorista, ou não sabe isso ou calcula, erradamente, que a capacidade de locomoção da pessoa é maior que a que eventualmente é. Claro... eu podia dar um encontrão na pessoa e atirá-la ao chão, mas não me parece... Então, fico com aquele "nervoso miúdinho".  Quando o meu pé atinge o chão, já as portas estão a roçar nas minhas costas. Não é algo que me agrade. Acho que revela um lado feio do ser humano, que está ali meio oculto, mas que ele decide à mesma dar ouvidos. É uma forma de descarregar uma frustração pessoal em cima de alguém. Paga um por todos ou nenhum... sei lá! Só acho mais graça a isto quando o motorista vem devagar, faz questão de abrandar para apanhar os semáforos vermelhos e, depois, subitamente, quando abre as portas para os passageiros sairem, é que sente pressa :)!

Também acontece uma pessoa estar atrás de alguém que vai descer e outra pessoa ao lado dessa pessoa também está a descer e é uns milésimos de segundo mais rápida. Acho que todos esperam que o comportamento seguinte seja este: sair detrás da pessoa que ainda está a descer para se enfiar na abertura entretanto livre e sair a correr. É isso que muitas vezes acontece. A maior parte das vezes, até desço mais rapidamente que a pessoa que estava na frente e ficou ao lado. É que uns precisam descer com firmeza, outros agarram-se ao corrimão, outros descem, dão uma virada e saiem de costas... tudo rápido, mas lento, para quem (ainda) sai do autocarro com um pé diante de outro sem se segurar a nada.

Mas, de todas as vezes que senti que a porta se fechou precipitadamente, a que mais me incomodou foi a vez da saia rodada. A senhora que descia à minha frente usava uma saia comprida. Ao descer, a deslocação do ar eleva a saia e faz um "balão". O meu pé quase que a pisa mas consigo me segurar e descer já a saia da senhora não se apresenta como uma ameaça. Porém, as portas começaram a fechar ainda a bainha da saia estava cá em cima...

Outras poucas vezes, sou só eu a sair e estou na porta. Não é que também acontece? Não sou nada vagarosa, já disse... será que é porque esperam que uma pessoa desça do autocarro pela abertura enquanto as portas ainda se movimentam?

Também observei um comportamento contrário. Um homem, alto, negro, a dar risadas e a falar alto (só entendi a palavra "arma"), esperou o autocarro parar para se levantar e se dirigir para a porta. Mas não parecia tem muita pressa, pois parou a meio para ajeitar a sandália. Ainda se reteve uns instantes na conversa com alguém que ficou para trás. O motorista então, carregou no fechar das portas. O homem não reagiu abrindo os olhos e mostrando ficar alarmado, como os Portugueses fazem (o homem não era Português). Aop invés, na direcção do motorista, pronunciou algo em voz alta, esbracejou ligeiramente e, em segundos, a porta abriu novamente, antes mesmo de fechar totalmente.

Comecei a pensar no poder da intimidação... outra pessoa qualquer teria aquela porta fechada a mais tempo e o autocarro em movimento, visto que o homem era o único a sair naquela paragem e não chegou à porta atempadamente. Mas o medo, ou outra coisa qualquer, o desconhecido, faz as pessoas terem mais cautela... no geral, um motorista sabe como é que um português reage a este tipo de situação. Mas um estrangeiro, alto, à vontade...? É melhor não abusar! Até acho que o homem se demorou um pouco demais e aí estava a ser indelicado, mas creio que não teve intenção e há coisas mais preocupantes no mundo...

Ontem choveu muito em Lisboa, logo pela manhã. Foi trovoada demorada, seguida de uma forte chuva, que, como sempre, teve o poder de alagar estradas e passeios.

Dentro do autocarro, um passageiro que se encontrava à porta de saída, ao sentir o abrandamento do veículo na proximidade da paragem, pediu ao motorista para andar mais um pouco para a frente, porque ali o chão estava alagado. Um outro passageiro, também homem de meia idade, sentado na frente do veículo, num segundo grita, virando-se para trás:
 - "Tenha calma que o homem ainda não parou! Ainda não chegou à paragem, olhe lá a pressa! Não percebo porquê tanta pressa! Ainda não parou!"

O outro passageiro muito educadamente pediu desculpa e ainda tento justificar que falou porque viu o chão cheio de água e pensou que o autocarro ia abrir as portas. Da sua boca ouvi pelo menos 3 "obrigados". Foi educado. O outro, longe disso. Afinal, uma pessoa já não pode, com educação, cometer um equívoco, que é massacrado! Há uma espécie de ira nas pessoas, que gostam de revelar com certas e pequenas miúdezas essa raiva mesquinha.

Numa  paragem de autocarro da Carris, noutro dia, assisti a um daqueles confrontos entre automobilistas que, por alguma razão, decidem parar no meio da via e começar a buzinar e a barafustar dentro dos seus fechados carros, gritando obscinidades com o vidro da janela fechado. Um carro que vinha atrás teve tempo para ver a situação e parar mas, como isso lhe era um inconveniente, decidiu que tinha toda a legitimidade para explodir de raiva. E, é curioso, o passageiro no banco do pendura é que parece ser o que mais gosta de gritar! A rapariga jovem colocou o pescoço fora da janela e logo desatou a gritar: Mer..! Car!!!

Toda esta cena demorou 5 segundos. As 3 viaturas arrancaram de imediato e seguiram rumo estrada acima. Ainda ouvi, já longe, mais umas buzinadelas... mas digam lá: 5 segundos, é preciso saltar logo a tampa?

Aré Bába!

2 comentários:

  1. a senhora há-de reparar que o motorista está a olhar pelo espelho quando fecha as portas e se alguma vez ficar entalada é porque não estava a ser vista,acontece,existem pontos em q não se consegue ver os passageiros, se o motorista esperar que todos saiam e só depois carregar no botãozinho as portas ainda demoram mais não sei quanto tempo a fechar e o autocarro vai demorar mais não sei quantos minutos preciosos tanto para o motorista como para alguns passageiros a chegar ao terminal. A atitude que as pessoas têm de correr para as portas e entrarem em stress mesmo antes do autocarro estar parado não é por o motorista fechar rapidamente as portas, repare no que se passa no metro...não acontece a mesma coisa?...

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  2. Ai, ai...
    Obrigado pelo seu comentário. Acredite que o entendo bem. Repare que não critico os motoristas mais do que o comportamento das pessoas em si. Onde estou incluida.

    É verdade: as pessoas dirigem-se para as portas (principalmente para entrar) com um "gula" um tanto irracional. São vários factores que o influenciam, como já o esmiuçei.

    Comportamentos levam a comportamentos e é fácil responder por hábito a eles. De ambas as partes.

    No metro a pessoa sabe que pode sair rapidamente que não fica entalada na porta. O que referi foi que, ainda na pressa, por vezes as portas já estão a fechar com o passageiro ainda dentro do autocarro. Acontece. No metro ainda não o vi acontecer. Está certo, ando muito menos, mas ainda assim... nunca vi.

    Depois da pressa para serem os primeiros a entrar, nenhuma rapidez para andar. Isso acontece quase sempre e é uma das coisas que mais me incomoda, porque quero logo chegar a um canto qualquer antes que o autocarro arranque. Assim que o último passageiro pisa o degrau de dentro do autocarro, se o trânsito estiver desimpedido, o motorista arranca. Por isso a pressa das pessoas para entrar e a lerdeza com que caminham logo a seguir, me faz confusão. É como começar nos 100 km/h para os 10 em 3 segundos! :)

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