quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A minha refeição incomoda o seu cigarro?


É assim que me sinto quando estou perto de fumo. Eram 8h00 da manhã quando entrei no elevador do prédio para ser de imediato agredida pelo cheiro a cigarro. A atmosfera poluída sempre me incomodou fisicamente e para quem saiu de casa em jejum, aquele avassalador odor foi demais!
Lembram-se de um anúncio televisivo passado num restaurante, em que duas pessoas estão a almoçar e uma delas acende logo um cigarro? O fumo dispersa para cima da refeição do outro que diz: Peço desculpa: a minha refeição está a incomodar o seu cigarro?
Como reacção, o outro apaga o cigarro, com um ar envergonhado.

Hoje em dia isto já não resultaria, porque as pessoas tornaram-se muito agressivas e, mesmo com boa educação, não sabem aceitar uma observação negativa. Como consequência, tememos fazer um reparo a desconhecidos envoltos em alguma actividade que nos incomoda. Neste sentido tiro o chapéu à geração mais velha, pois a autenticidade da maturidade acalma reacções autoritárias.

Mas os tempos mudam e outras coisas tomam o papel do cigarro no que respeita a influências agressivas nos espaços públicos. Na camioneta, por exemplo, tanto hoje como noutras ocasiões, pessoas a jogar nos telemóveis sem lhes tirar o som é algo a ganhar terreno, e é incomodativo. Ficar 40 minutos a ouvir vezes e vezes sem conta o mesmo ruído estridente, é mau. A cabeça não descansa. A camioneta, que tem como principal vantagem esse silêncio para uma pessoa usufruir, o que contrasta bastante com outros meios de transporte, é assim privada da única característica que a valoriza. Alguns aparelhos multifunções dispensam os phones pelo que, além dos ruídos de jogos, também escutei músicas. Pela própria função portátil dos aparelhos, os sons que emitem não são tão agradáveis de ouvir como os que são difundidos por colunas de qualidade. Para quem está próximo, são ruídos.

Hoje entrei na camioneta e comecei a ler o jornal (outra vantagem que só a camioneta possui). Nunca consegui ler no interior de um veículo em movimento até ter experimentado fazê-lo na camioneta. Fiquei surpresa por não enjoar e comecei a ganhar-lhe o gosto. Foi então que, durante a viagem de hoje, enquanto silenciosamente lia as notícias, me lembrei do anúncio do cigarro no restaurante e tive vontade de perguntar: desculpe, a leitura do meu jornal está a incomodar a sua música?

1 comentário:

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