terça-feira, 28 de abril de 2009

Tanta tosse... e cortesias

Continua a ser da praxe: num autocarro com tantos lugares e tanta gente, a única pessoa a tossir fá-lo à minha frente. Não, não estou a exagerar. Foi assim ontem, a semana passada, hoje. E não; não uso perfume nem exalo nenhum odor que leve ao espirro, muito menos à tosse. É mesmo uma (má) sina! Ainda mais no actual panorama do «alarme» da gripe suína que começou no México e alastra-se pelo mundo.
Mas não é sobre as circunstâncias ou a quantidade de vezes que tossem em cima de mim que vim falar. Embora tal ainda me suscita vontade! É que as pessoas não se dão ao trabalho de sequer desviar a direcção...

Vim falar de algo "positivo". Não quero nem nunca foi a intenção deste blogue falar das experiências nos transportes públicos apenas pelas coisas más. Podem até ser em quantidade maior mas, porque a vida também precisa de sonho, as coisas boas também terão o seu destaque.

Hoje apetece-me referir um gesto de cortesia. Outrora a mim negado, hoje acedido a um que por ali passou.

Não foi num autocarro da Carris, mas numa camioneta que desagua no terminal do Campo Grande. Na localidade onde a apanho em direcção a Lisboa, vivi numa ocasião uma experiência muito desagradável. Pedi para sair mais cedo do trabalho para ir ao médico e corri para a paragem, onde esperei muito tempo pela camioneta. Quando esta chega, no visor não aparece o percurso que faz. Não sendo a que estou acostumada a apanhar, deduzi tratar-se da que faz o percurso longo pelas aldeolas e demora uma hora a chegar a Lisboa. É então que pergunto a umas pessoas que ali estão se a que vem imediatamente atrás é a rápida, ao que me avisam que essa é a que já ali está parada. Corro para a porta, que estava a fechar. Bato no vidro. O motorista acena que «não».
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Diante a nega, recuei os 3 passos que tinha dado e as pessoas que primeiramente me tinham dito para bater no vidro para o motorista abrir a porta, nem perceberam o meu rápido gesto e voltam a repetir o conselho. Ao que lhes respondo que já tinha batido e ele se negou a abrir. As pessoas ficaram revoltadas e eu, a lesada, que perdi assim o médico marcado há 3 meses, senti-me injustiçada. Neste tempo o semáforo está quase a passar de vermelho para verde. Após arrancar, a camioneta tem forçosamente de fazer uma curva apertada para apanhar uma estrada paralela à direcção de onde veio. Decido atravessar para a apanhar no outro lado. Quero tirar a matrícula e o número para apresentar queixa.
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Nisso, o semáforo muda de vermelho para verde e, imprudente, sigo o hábito de olhar para a esquerda quando o trânsito está a chegar da direita. Quase sou atropelada. Deu para o susto, mas não para me demover do propósito. Sigo sem ter chegado a parar. Atrás de mim vem um homem que também fez sinal ao motorista para entrar, mas já após o meu. Coloco-me numa posição estratégica e a camioneta, como costume, está empatada na manobra. O homem ultrapassa-me e caminha até a camioneta, voltando a pedir, quando esta está PARADA, para entrar. Volta a receber nega. Ao passar por mim bem acelerado, o motorista faz uma careta e desvia o olhar. Devia ter pensado que ali fui para voltar a pedir para me deixar entrar. Memorizei o número da viatura e a hora e voltei à paragem, onde a próxima camioneta chegaria dali a 1 hora e poucos. Pedi uma caneta emprestada e anotei os dados.
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Hoje acontece que, mais adiante do local onde fiquei para anotar o número da viatura meses atrás, encontra-se um rapaz que faz sinal ao motorista. Este pára, abre a porta e espera que o rapaz contorne a frente da camioneta para entrar. Este gesto é uma excepção à regra, que me fez sentir bem. Este motorista é um homem que gosta de falar. Não fica calado a viagem toda. Se puder, interage com os passageiros. E tem a peculariedade de, ao chegar ao destino, anúnciar alto: "Chegada ao Campo Grande! Saída do Campo Grande!" - parece um motorista «de antigamente», quando estas cortesias e anúncios ainda se faziam a viva voz. Também deseja sempre «adeus, bom dia» aos passageiros.
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Hoje bati o meu record. Tive de correr para conseguir chegar à paragem «a tempo». Um percurso que se faz sem pressas em 20 minutos, fi-lo em 12. Sempre a subir. Percurso inclinado, pela estrada porque não há passeio, e os carros e viaturas pesadas a passar ao lado. Fiquei com falta de ar e a tossir (sim, desta feita fui eu! Mas nunca em cima de outras pessoas) a seco por quase meia-hora. Mas se não tivesse corrido, teria perdido a camioneta. Ás vezes acho que Deus só ajuda quem se esforça :! É claro que, por outra perspectiva, se a camioneta tivesse chegado à mesma hora do dia anterior, ainda tinha 15 minutos de espera...

6 comentários:

  1. Bolas que há pessoas ( esse motorista) sem civismo algum! Que lhe custava ter te deixado entrar. Dá vontade é de lhe chamar nomes. Acho bem que faças queixa dele! Olha num programa de radio a proposito do tema do meu blog fizeram-me uma entrevista que podes ouvir no meu blog se quiseres. Lembrei-me de ti pk no programa tb havia uma entrevista a um motorista da carris, deixo o endereço para ouvires, ok? Beijinhos

    http://radioclube.clix.pt/player/frame_player_7.asp?wma=/rcponline/rubricas/pessoas/pessoas_2009-04-20.wma&album_cover=/upload/i/icone%20150.jpg&linha1=Arquivo%20de%20Programas&linha2=Motorista%20da%20Carris&linha3=Rádio%20Clube&linha4=

    desculpa o tamanho do endereço...

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  2. Ahahah, isso é mesmo mau!! Parece eu com os pauzinho de cravinho na comida... pode haver um panelão cheio só com um pauzinho lá no fundo... mas tenho de ser sempre eu a levar com ele... :-|

    De facto, andar de transportes públicos é uma verdadeira aventura... também já me aconteceu tentar ir mais cedo e apanhar o autocarro errado; não que não fosse para onde eu queria ir, mas antes disso daria mil voltas... ainda por cima avariou no meio de nenhures, só comigo, o motorista e mais alguém a bordo, alguém que sacou do telemóvel e se sumiu, seguido do motorista que disse ir ter de ir buscar arranjo para o veículo... :-| Deixaram-me no meio do nada, a QUILÒMETROS de fosse que sítio fosse onde eu pudesse encontrar alguma alternativa... tinha telemóvel, mas as únicas pessoas que poderia contactar naquele sítio seriam os meus avós, que também não teriam como se deslocar, pelo que não quis preocupá-los... estava a trabalhar perto da casa dos meus avós onde conheço poucas pessoas e quem conheço também não teria forma fácil de se deslocar e me apanhar... até porque eu não sabia onde estava, não saberia dar indicações. No meio de um qualquer bairro de vivendas gigantesco, onde eram raras as casas comerciais e imperavam as janelas fechadas e as portas trancadas. A grande maioria das pessoas deveria estar a trabalhar, como, aliás, eu também deveria estar. Andei muito e valeu-me a caridade alheia de alguém que teve PENA de mim e me levou até à estrada principal.

    Há coisas neste mundo que escapam ao meu entendimento... por que é que uma coisa simples como chegarmos ao nosso local de trabalho, têm de se transformar num transtorno?

    No interior, para percorrer estradas e mais estradas sem grande trãnsito, junto da cumplicidade com o meu bom e velho peugeot, encontrei a minha Paz... acho que Deus ajuda quem sofre, de facto!! :-D

    Beijosss, saudades da minha vizinha por lá!! :-))

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  3. Lupa de Alguém: A tua voz surpreendeu-me. Gostava de ter uma voz assim para o adocicada. Tenho um geito doce, mas ninguém o diz à primeira impressão :) Faço cara feia!

    Porcelain Doll: Nossa! Que dia tiveste! Já tive parecidos mas isso de estar no "meio do nada" sem ter como chegar a um lugar... é mesmo um dia simples tornado complicado.

    Jinhos!

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  4. É verdade, cara vizinha... :-( acreditas que me exige um certo esforço lembrar-me desse sucedido? Ainda por cima estava a morar com os meus avós e quando cheguei a casa a minha avó deu-me um raspanete e disse que eu não devia ter deixado o autocarro (ficaria ali o resto do dia sozinha?), nem deveria ter deixado o motorista ir-se embora (agarrá-lo-ia com um cordel, talvez? ups, mas nesse dia, logo nesse dia esqueci-me de levar o cordel que habitualmente trago na mala... - ironia -)... enfim, coisas de avó!! Que na altura me enervou, quase levando á loucura, mas que é uma avó que eu vá-se lá saber como amo de paixão!! :-D

    Olha, respondi aos teus comentários todos lá pelo escolinha... obrigada, és uma querida!! Beijosss

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  5. Ola, tenho estado atenta ás suas histórias magnificas que passa sobretudo na carris... Sabe, há motoristas e motoristas, nem todos são antipáticos, mas deixe-me que lhe diga que nem sempre a nossa simpatia é o mais que tudo... eu sou motorista da carris, e devo informa-la que sou e serei sempre simpatica com os passageiros, mas há normas e leis. sabia ue se o meu colega lhe abrisse porta, e e um agente de autoridade visse, o que acontecia??? coima de 150 euros! pois é! esse montante num salário pesa muito, fora o processo disciplinar tomado pela carris.
    Por mais que queiramos ajudar ou facilitar, ás vezes vai contra as normas da empresa, mas contudo a nossa simpatia continua presente!
    Por isso quando se deparar com alguma situaçao menosgradavel, pense sempre o que podera estar r detraz!!!

    Continuação de uma boa escrita, e os meus parabéns pelo seu blog, que está explêndido!

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  6. Bem vinda, cara motorista da carris! Olhe, sou conhecida por pensar sempre no que "poderá" vir a acontecer e sou muito solidária... nada tenho contra quem trabalha.

    Mas deixe-me contar, desta vez num autocarro da Carris, o que vi certa vez: Um rapaz ia para entrar com um caozinho daqueles bem pequeninos que cabia na palma da mão. Vinha ao colo, embrulhado num casaco e isto foi na véspera de Natal.

    O motorista recusou deixá-lo entrar. O rapaz, muito calmo e educado, insistiu, dizendo que o animal era pequenino e comportado. O motorista não cedeu e explicou-lhe o seu ponto de vista: E se alguém que entra ou já está no autocarro for alérgico? Ele tem de pagar uma multa. O rapaz, na véspera de Natal, lá ficou do lado de fora.

    Compreendo os dois lados mas sabe, prefiro que se arriscasse. Porque meses depois, ao entrar no autocarro, sentei-me num lugar e de repente vi uma coisa estranha no chão. Uma cadela enorme! (com os olhos mais meigos que já vi). Claro está, esses olhos meigos estavam a fazer a vez dos olhos do invisual que a cadela auxiliava.

    Mas será que não pode existir pessoas alérgicas a ela também?

    Depois, nos autocarros, temos de sentar em assentos cujo cheiro que sentimos ao redor do lugar desocupado leva-nos a recear a falta de higiene dos ocupantes anteriores. Aliás, HIGIENE e autocarro da Carris, não são duas coisas que costumam estar sempre ligadas.

    Eu preferia que deixassem o animal daquele porte entrar. Há com cada mal cheiroso no autocarro e ninguém lhes recusa a entrada por virem a causar risco para a saúde dos restantes passageiros.

    A título de referência aos motoristas, noutro dia vi também um a voltar a abrir a porta e adiar a partida para deixar entrar um senhor de mau aspecto a carregar um embrulho enorme e pesado envolto em saco de plástico preto. O senhor entra e, como os restantes já haviam entrado, ele as atenções estão nele. O motorista arranca e o homem fica a procurar o bilhete por entre os bolsos do casaco. Acaba por entrar com aquele embrulho enorme que acabará por ser um estorvo, sem realmente ter pago a passagem.

    Cumprimentos!

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